segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tudo e nada.

[neve, neve]

"Sabes, és-me tudo mas eu não tenho nada para te contar. És-me tudo mas eu não tenho nada para te falar. És-me tudo, mas eu não tenho nada para te dizer. A ti, a ti em particular. Mas eu não tenho nada em particular para ti. És-me tudo, mas eu não tenho nada para te contar, nada para te dizer. Quanto aos outros não sei, mas arranja-se sempre tema de conversa. Contigo não se fala de nada, porque contigo não se pode falar de tudo. Embora contigo isso devesse acontecer.

És-me tudo mas não tenho nada para ti. Para os outros, talvez tenha, mas não podes saber de nada! Tens de pensar e esperar que esteja sempre tudo bem. Nem que isso seja apenas ilusão da minha cabeça, ilusão essa em que quero permanecer e quero que permaneças.

És-me tudo mas eu não tenho nada para falar contigo. Com outros tenho sempre. Com eles posso conversar sobre tudo, sobre o que quiser.
Contigo não posso conversar nada. E tu comigo só podes conversar sobre aquilo que eu quiser. E porquê? Porque eu só ouço o que me convém, não ouço tudo aquilo que me dizem. Se me dizem bem, respondo "Hã? Não ouvi!" Se me dizem mal, respondo "boa". Faço tudo aquilo que os outros me dizem para fazer, mesmo que essa não seja a minha vontade. Porque se não o fizer, o que podem pensar os outros de mim? TUDO! Mas a opinião deles conta? Não, claro que não, não conta para nada. Mas faço tudo para os agradar, senão passo a ser nada para eles. E isso não pode ser.

És-me tudo quando estás longe. Bem longe. Porque quando estás por perto és-me nada. Quando estou contigo tenho de aproveitar o tempo com tudo o resto. Aproveito tudo, menos estar contigo. Porque senão perco tudo. Não tenho nada contra ti, aliás, como gosto de dizer és-me tudo. Mas tenho de ocupar o meu tempo com tudo o resto, senão passo a ser considerado nada. Tudo o resto é muito mais interessante. As novas tecnologias, então, se as largar por um minuto passo a não entender nada delas. E passo a não ter contacto com tudo o resto, com todos os outros. E isso não pode ser. Elas são-me tudo. Não passo sem elas. Sem elas não era nada.

És-me tudo, mas tudo o resto é o que realmente me importa, o que realmente me interessa e o que realmente me preocupo. Os outros é que têm sentimentos, os outros é que estão mal. Agora tu? Tu não. Se me és tudo, como podes sentir-te mal? Preciso de me preocupar com tudo o resto para continuar a ser tudo para muita gente. Mesmo que um dia o deixe de ser para ti."

E faz sentido? Não, nada. Fazes uma coisa, dizes outra. Contradição, contradizer. De uma vez por todas, diz-me tudo. Tudo o que quero ouvir. Tudo o que preciso de ouvir, mesmo que não queira ouvi-lo. Mas não, não me digas coisas que não sentes. Não me digas que te sou tudo. Diz antes que sem mim não és nada...para que nada passe a ser tudo e para que tudo volte a fazer todo o sentido...



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