E sinto-me uma pessoa completamente privilegiada por mil e um motivos, dos quais vou frisar especialmente o facto de ainda ter avós paternos e maternos.
Não vou mentir, é muito bom, óptimo, um autêntico privilégio. E se calhar nem sempre dei valor a isso.
E tive, até o dia de ontem, uma bisavó com 98 anos. É verdade, 98 anos. Mas enfim, a idade pesa e ninguém é eterno. Nem ela. Nem nada até.
Passei alguns momentos da minha infância com ela, mas infelizmente a memória não é muita. Sei que bebia muito chá, lembro-me disso porque achava incrível alguém conseguir beber tanto chá por dia. Lembro-me que apesar de ter idade bastante avançada, ainda conseguia andar facilmente com a ajuda de canadianas, e consequentemente continuava a ter a mão leve para quem se portasse mal. E língua afiada. Desde sempre me lembro disso, língua bem afiada, resposta sempre pronta a dar.
E acho que fiquei com essa costela dela.
Lembro-me também dela me contar coisas antigas como, por exemplo, ver um carro pela primeira vez. Ensinou-me a fazer colares de flores.
E pouco mais me recordo.
Certamente dei-lhe bem cabo da paciência e do juízo.
E sempre me lembro dela como uma autêntica lutadora. Até aos últimos momentos. Tomara que também tenha ficado com essa costela dela.
A última vez que a vi com vida, já faz algum tempo, mas nesse dia ela estava bem. Sorria. Não me conhecia de lado algum. Melhor, não me reconhecia, que a cabeça já não dava para mais. Mas não foi por isso que deixou de sorrir.
É neste tipo de coisas que chego à conclusão que: além de privilegiada, sou também uma autêntica menina. Sim menina.
Não sei lidar com a morte. Bem, no fundo, acho que ninguém sabe. Talvez.
É neste tipo de coisas que chego também à conclusão que nada é eterno. Que a passagem por esta vida é curta, que devemos mesmo aproveitar ao máximo cada dia como se fosse o último. Nada é certo nesta vida. Acho que a única coisa certa é mesmo a morte.
Que descanses em paz. Olha por nós aí em cima!
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