(Im)previsível

Imagem nada da minha autoria. Mais informações: http://i675.photobucket.com/albums/vv112/Ms_g83/palms-clock.jpg

"Não sou vidente nem nada que a tal se pareça. Não sou astróloga, não previno o futuro. Sou apenas racional, demasiado por vezes. E aqui provavelmente entra também uma grande parte da minha infância passada a construir puzzles: encaixo todas as peças. Por vezes nem necessidade disso eu tenho, pois já consigo ver o resultado só pegando em algumas peças.





O Mundo quer, o Mundo precisa de uma constante evolução? E quando a evolução é recíproca? Dá lugar a uma revolução, já os antigos assim o ditavam. É algo bem previsto. Nem para aqueles que visão não têm ou não possuem, ou nem para aqueles que fingem não ver, tal coisa não passaria despercebida e não seria imprevisível.





O relógio parou. Simplesmente parou no tempo. Já à algum tempo que está parado. Já o tentei consertar mas foi em vão. Por vezes apetecia-me agarrar num martelo e "espancá-lo até à morte", de forma a que dele não restasse nem um pequeno grão de pó. Por vezes queria não tê-lo, queria livrar-me dele. Mas depois lembro-me da falta que ele me faz e deixo-o permanecer comigo mais um bocado.


Mas espera, de repente oiço um ligeiro "tic tac", "tic tac" que desperta de novo em mim uma nova luz à muito adormecida. O relógio voltou a andar, finalmente. Ao fim de algum tempo parado, era previsível que voltasse a funcionar. Só que está a marcar o tempo ao contrário, contra o sentido normal dos ponteiros, rodando para o passado. Relembrando-o. Recordando-o.


Tal fenómeno era imprevisível. Mas aconteceu. Mas deu-se. Tudo é (im)possível.





O relógio corre no sentido do passado. Os ponteiros passam por momentos já passados e que eu tinha conhecimento deles apenas por relatos, por observação. A rodar desta maneira acabo por viver tais relatos dando-me impotência, tirando-me de novo as forças.





Como é possível um relógio andar ao contrário e achá-lo correcto?


- Quem és tu para me questionar? - pergunta.


- Sou apenas o tempo presente. Porque insistes em tirar-me o lugar para dar tempo ao passado? - responde o Tempo Presente perguntando?


-Oh Tempo, simplesmente falta-me tempo e não quero perder o meu precioso tempo contigo a falar de um outro tempo. Se recuo para ele, é óbvio que tem um lugar mais importante não achas?


- Só sei que nada sei.





E o relógio teima em rodar os seus ponteiros para o sentido contrário. Eu, tempo presente, limito-me a observar até ver onde toda esta história vai parar. Se parar.


Falta de evolução é sinónimo de revolução? Nem sempre. Nem sempre posso estar revoltada. Resta-me agora um cansaço, uma frustração.


Agora que o Tempo Passado tomou o meu lugar, aproveito para descansar. Para tentar recuperar forças. Para tentar reaver o meu lugar. Será tarde demais? Não sei. Não sei. Não sei.


Só sei o relógio assim o dita. E o tempo não pára."