"Espelho. Tenho pavor do espelho. Pavor do que ele pode reflectir. Posso olhá-lo olhos nos olhos, e ver apenas o que quero, ver apenas o que é bom, o que é agradável aos olhos. Ver apenas o que quero ver. Ou posso ver a realidade, ver com olhos de ver.
Em ambos os casos, tenho de enfrentá-lo e prefiro não fazê-lo. Até porque cada vez que o faço, a desilusão é uma crescente. Cada vez me reconheço menos. Mudo cada vez mais. Em alguns aspectos para melhor, noutros nem tanto.
Noutros tempos, tempos que passaram, tempos que lá vão e não voltam, olhava para o espelho e conseguia ver luz, cor, alegria, conseguia ver a minha própria alma para além de um reflexo do brilho dos olhos de uma criança feliz. Hoje, olho para o espelho e não me reconheço. Não vejo luz, não vejo cor, muito menos alma. E a verdade é que não estou cega. Talvez esteja, em certos aspectos. Preciso de ajuda para ver, mas continuo a não ver um palmo à frente do nariz. E aqui irei continuar, com receio de olhar para o espelho e enfrentar a dura realidade dele espelhar o vazio.
A verdade é que o espelho não reflecte nada, até porque não há nada para reflectir ou ser reflectido. "

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