domingo, 31 de julho de 2011

Medidas

Noutra das minhas já habituais divagações mentais, somando às insónias combatidas pela sempre boa televisão portuguesa, meti-me a pensar em medidas. Mas não qualquer tipo de medidas.

Mal ligas a televisão ou simplesmente agarras num revista e vês corpos esculpidos até ao mais pequeno milimetro, o mais perto possível da perfeição, mesmo que esse conceito varie de pessoa para pessoa. Alguns agraciados simplesmente pela mãe Natureza. Outros com muitas horas de ginásio e em dietas constantes. E outros compostos por todo o tido de botox e tratamentos que possam existir.
E é isso que importa? É isso que realmente importa? As medidas? Aliás, ter as medidas perfeitas, que no meu caso concreto seriam 86 - 60 - 86.


E somos constantemente bombardeados com isto mesmo: perfeição física. Não interessa como se obtêm, interessa simplesmente consegui-la. Nem que para isso te olhes ao espelho e pareças tudo, menos tu. O que interessa é mudares o teu corpo, retocares com botox aqui e ali, meter silicone aqui e no outro lado.
E isso é tão importante assim? Quem ficar connosco vai andar com uma fita a tirar as medidas, e vai dizer "desculpa, não tens as medidas perfeitas, não dá mais".
Ou simplesmente quem ficar connosco vai-nos fazer sorrir de tal forma que tal sorriso jamais conseguia ser medido por fita alguma?! Melhor medida que esta não há.



Simplesmente por vezes esta excessiva obsessão com a forma física irrita-me. Torna-se exaustiva.
Admito com todo a sinceridade que sim, esse é o primeiro impacto que se tem: o visual e, consequentemente, o aspecto físico.
Mas e quantas vezes se perde todo esse encanto quanto a dita pessoa abre a boca e em poucas frases é perceptível que não existe conteúdo algum naquela cabeça. Coisa oca. Coisa muito oca.
E a menos que o objectivo seja esse: cabeça oca, cata-vento, todo o interesse se perde.

E não, não tem mal algum olhar pelo nosso corpo. Bem pelo contrário. É isso mesmo que devemos fazer, pois não temos outro. Devemos simplesmente aceitá-lo como ele é, com todos os defeitos e virtudes, pois é isso que nos distingue de quem nos rodeia. Umas vezes pela negativa, outras pela positiva. Devemos ajustá-lo? Claro que sim, mas sem cair no exagero de se tornar uma enorme obsessão. Falo por mim, como sempre.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

"É difícil ser eu"

O título é várias vezes invocado por uma amiga minha, em tom de brincadeira. Mas no fundo, com um tom algo sério também. Já o outro dizia e bem "a brincar se diz a verdade".

Não sei. Sei lá. Às vezes farto-me de ser eu. Canso-me até.
Não que, felizmente e no momento actual, seja o caso, mas por vezes canso-me da armadura que sempre carrego.
Armadura? Sim.
Não que seja alguma espécie de de cavaleira. Guerreira apenas. É mesmo armadura para me proteger. E para me proteger de quê? De tudo. De tudo e mais alguma coisa.
Mas é cansativo. Por vezes apetece-me simplesmente admitir que também erro, também choro, também tenho fraquezas e feridas. Por vezes apetece-me tirar a armadura e ser simplesmente e totalmente eu. Independentemente do que me atingir. Basicamente admitir que por vezes também sou fraca. Por vezes também tenho direito a sê-lo. E melhor é não ter vergonha nem medo de o admitir.

E depois, uns dias penso "nem sou assim tão má pessoa". Depois, outros dias o pensamento que me ocorro é simplesmente o oposto "és mesmo má pessoa". E depois? Sou boa pessoa, sou má pessoa? Sou duas pessoas? Sou várias pessoas? Ou sou umas vezes boa, outras vezes má? Eu já nem sei.

Por vezes, não sei simplesmente o que sou. E acho que me vou descobrindo e re-descobrindo a cada dia que passa, seja isso bom ou mau.

domingo, 3 de julho de 2011

As pessoas julgam

As pessoas julgam.
Julgam o que comes, o que não comes. Julgam o que bebes e o que deixas por beber. Julgam a forma como o fazes. Julgam a tua postura ou falta dela. Julgam a tua forma de andar, de correr ou mesmo de movimentar. Julgam-te dos pés à cabeça. E tentam encontrar defeitos. Um sinal aqui, uma variz ali, celulite aqui, uma borbulha e assim, gordura acolá. Nunca nada está bem, nunca nada está perfeito. Há sempre defeitos. Virtudes, essas, encontre-as quem conseguir ou quem quiser. O que conta é encontrar defeitos. Isso é que dá pontos.

As pessoas julgam.
Julgam-te pelo que fazes, julgam-te pelo que não fazes. Julgam-te se vais ou se ficas. Julgam-te pela pinta. Julgam o que falas, para quem falas, com quem falas e modo como articulas as palavras, e especialmente a parte que acho particularmente engraçada: sem que seja nada com elas.
Julgam que sabem tudo de ti. Julgam que sabem mais da tua vida que tu mesmo. Julgam-te pelo que aparentas ser. E pelo que não aparentas também. Julgam cada passo teu. E esperam. Esperam pelo mais pequeno erro, para julgar. E logicamente criticar. Que julgar e criticar andam de mãos bem dadas.

As pessoas julgam.
O que vestes. O que não vestes. O que deixas por vestir. O que despes. O quanto despes. Ou se não chegas a despir. Julgam a cor que usas. A cor que não usas.
Julgam o que vês. O que não vês. O que deixaste de ver. O que nunca viste.
Julgam igualmente o que ouves. O que te recusas a ouvir. O que nunca ouviste.

As pessoas julgam. Julgam que não sentes. Julgam que sentes. Julgam o que sentes. Julgam por quem sentes. Julgam com quem sentes. Julgam o quanto sentem. Julgam o quando não sentem. Julgam igualmente quanto tempo sentem. E julgam especialmente quando deixamos de sentir.

As pessoas julgam que conhecem mais de ti do que tu mesmo.

Julgam e julgam e julgam.
Julgam tudo e todos. E fazem disso uma vida. Vivem a vida dos outros. E apontam defeitos, sem sequer se olharem ao espelho.
E sabem que mais? Vão julgar quem vos fez as orelhas e vão para a p*** que vos pariu, tenho dito.